segunda-feira, 11 de maio de 2009

Os primeiros nós







Sábado 09.05.09. As redes foram lançadas na Baixa. Começamos pelo Largo de S. Domingos, seguimos pela Rua das Flores, Rua de Belmonte e Mouzinho da Silveira.

A adesão foi quase total. Desde habitantes a comerciantes, todos colaboraram na colocação das redes, símbolo da união de todos, em prol de uma Baixa mais activa, dinâmica e alegre. Apenas alguns comerciantes não aderiram, receosos da estética das suas montras ou de alguma desconfiança em relação ao projecto. Compreendemos e aceitamos as suas hesitações, mas continuamos esperançados que compreendam o objectivo da Rede+: todos unidos para uma Baixa renovada e activa.

Encontramos pessoas desanimadas com a actual situação, mas também desejosas de uma mudança que lhes traga melhores dias. E muitos, muitos habitantes que aderiram com entusiasmo a esta iniciativa e nos vinham pedir redes para colocarem nas suas janelas e varandas.



Encontramos a Sra Natália, que faz 71 anos no dia 18 de Maio e que criou quatro filhos sózinha, porque o marido morreu há 35 anos, o dono da frutaria que está à espera que o Manoel de Oliveira o chame para o próximo filme e mulheres do povo, de rostos francos e sorrisos cansados, nós naturais e espontâneos de uma vontade de mudança comovente e redentora.

Falamos com o Sr. Gaspar Castelo Branco, poeta e autor das Lendas do Rio Douro, de canções e letras de fado, que nos leu o seu livro de poemas e, com a confiança tocante das gentes do Norte, o cedeu a nosso pedido para podermos publicar alguns dos seus poemas.

E o Sr. Costa, cabeleireiro de um salão perdido no tempo, que ganhou o dia porque só parecia ter 55, de 75 anos bem vividos e sentidos, que dispensa empregados, porque faz tudo melhor que eles, desde lavar cabeças a manicure e pedicure, só não lava as toalhas, porque essas lava-as a lavandaria, pois então…

Também perdidos no tempo ficamos na mercearia do Sr. António Lima e filho, que encanta pelas marcas de um tempo recheado de memórias, desde o Clarim Lavar, Lavar, Lavar, chocolates Rajá, Cartazes Ramos Pinto, Martini Cinzano, placares em chapa Nestlé e Portos de outros tempos. Folheamos com ele um lindíssimo livro, Porto, onde a sua mercearia comparece em lugar de destaque, envolvida em fantásticas fotos de uma beleza estonteante de um Porto monumental.

Subimos escadas em caracol, apoucadas e combalidas pelo tempo, empoleiramo-nos em janelas desgastadas e estafadas, caladas pela crueldade do tempo que passa.

E tantas, tantas casas, com varandas solitárias e desamparadas no seu degredo, banidas de uma cidade que as abandonou sem apelo nem agravo, proscritas em ruas que protestam por vida, alma e rebuliço.

Lançamos as primeiras de muitas redes, estabelecemos nós e pontos de encontro, sonhamos vida e movimento.

Mas queremos mais, muito mais…

Foto Regina Meireles Guimarães

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